Bete Marques, Maria Alda Rodrigues e Agleide Almeida encontraram nas jornadas da vida, a missão de, enquanto mulheres, contribuírem para o desenvolvimento da sociedade
Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, conheça a história de três mulheres inspiradoras, que são servidoras públicas da Prefeitura de Marabá. Por meio do relatos, refletiremos sobre o desempenho das funções e o papel feminino delas na sociedade atual.
“Ser mulher é uma dádiva de Deus”
As mulheres são maioria em setores estratégicos do serviço público em Marabá. Das 25 Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município, 16 são gerenciadas por mulheres. Bete Marques é uma delas. Ela é gerente da UBS Edivan Xavier, no bairro Araguaia, núcleo Nova Marabá, tem 46 anos, dos quais 28 anos são de serviço público, sendo concursada no cargo de técnica em saúde bucal.
Na jornada profissional, Bete trabalhou no Centro de Referência Integrado à Saúde da Mulher (Crismu) por quatro anos, e em outras UBS’s, como Jaime Pinto, no bairro Belo Horizonte, também por quatro anos, e no João Batista Bezerra, no bairro Santa Rosa, por 15 anos. Nesse interim, chegou à gerência.
Para ela, o trabalho de gerenciar vai além de atos administrativos ou burocráticos, diz respeito ao cuidado com os pacientes que procuram a UBS, proporcionando a eles aconchego.
“Todos os dias, quando eu acordo, sento na minha cama e peço um bom dia. Eu peço também que eu seja benção e vida dos que me procurarem, dos que tiverem contato comigo. A minha autorrealização é saber que eu estou sendo algo de bom para as pessoas”, explica a servidora.
Bete Marques acredita que ser mulher é realizar sonhos que apenas as mulheres têm. E nessa lista, ela cita alguns que realizou, como ser mãe, ter um marido que é parceiro e amigo em todos os momentos, além do exercício de outros papéis como ser dona de casa e profissional.
Outro sonho que ela conseguiu realizar foi ser radialista, profissão que exerceu durante três anos e que demonstra fascínio. Atualmente, está no 5º período do curso de psicologia, que estuda à noite. É uma jornada que se soma aos múltiplos papéis que ela já exerce.
“Os obstáculos todos os dias batem à porta. Não é fácil, principalmente hoje aos 46 anos tentando aí uma nova carreira, um novo desafio. Os desafios de ser mulher são grandes porque é uma sobrecarga que nos vêm naturalmente. Tenho prazer de ser mulher, de ser lutadora. Eu me considero uma mulher lutadora e autorrealizada. Ainda muito para conquistar, mas já posso dizer que tenho minha autorrealização”, ressalta.
Ela percebe que definir o que é ser mulher extrapola os limites do que pode ser expressado, tamanho a complexidade de traduzir o real significado dessa palavra. Para Bete, o mundo é pequeno demais para ser conquistado. Buscar e o idealizar fazem parte da trilha percorrida por mulheres que sabem bem o que querem.
“Eu digo que ser mulher é uma dádiva maior que Deus me deu. Eu sempre tento distribuir essa alma feminina também aos homens que convivem comigo, aos meus filhos, meu marido. Eu digo ‘entenda o universo feminino e você entenderá o sentido da vida, porque o sentido está em nós, mulheres. A vida sai de nós’. Essa garra, essa determinação foi dada por Deus para nós. Ser mulher é tudo”, conclui.
“Ser mulher tem os altos e baixos”
A história de Maria Alda Rodrigues da Silva, de 48 anos, é parecida com a de inúmeras mulheres que todos os dias ajudam a construir esse país.
Mãe solteira de quatro filhos, a servidora, que trabalha no atendimento direto ao público na sede da Secretaria de Gestão Fazendária de Marabá (Segfaz), batalhou para criar os filhos sozinha.
Ela atua no serviço público há 15 anos e, na Segfaz, onde trabalha desde 2015, tem papel importante ao lidar diretamente com o contribuinte na emissão de documentos, protocolos e na resolução de trâmites próprios da secretaria.
“Eu gosto. Por mais difícil que seja eu gosto de lidar com o público. A gente interage mais. Quem está fora acha que não, mas a gente tem aprendizado ali. Eu mesmo já aprendi muito depois que cheguei no departamento”, destaca Maria Alda.
No trabalho, ela tem contato com pessoas das mais diferentes personalidades. É nessa relação com o próximo que o aprendizado acontece.
Sendo servidora pública concursada, ela conta que sabe o valor e a importância de seu trabalho e que busca sempre cumprir a função da melhor maneira possível.
“Porque você já tem uma garantia de estar ali. Eu vejo situação de pessoas desempregadas, que não tem para onde correr e a gente que tem o da gente tem que fazer o máximo para ser bem reconhecido, ser visto”, comenta.
Sobre ser mulher, ela compartilha um pouco do que a experiência de vida a ensinou sobre esse papel. Para ela, é gratificante em algumas partes, como por exemplo, ser mãe e avó.
No entanto, quando analisa o mercado de trabalho, ela vê que ainda é necessário superar barreiras. “Ser mulher na sua área de trabalho, principalmente nessa, mexer com o público, mexer com gente, é bem mais difícil. Difícil porque tem muitos que reconhecem e outros que acham que mulher não tem tanta vez quanto o homem. É aí que se enganam, porque a gente tem exemplo de mulheres que superam qualquer homem. Eu mesmo não me troco. No trabalho, eu sempre procurei ser competente com a minha função”, declara.
Para Maria Alda, poder contemplar os frutos da dedicação aos filhos é uma forma de compreender o quanto ser mulher é desafiador.
“Eu sempre fui mãe e pai, reconhecida pelos meus filhos, graças a Deus que eles reconhecem isso. Hoje já retribuem toda a minha luta por eles. Ser mulher tem os altos e os baixos. O principal desafio, o mais difícil, foi criar os filhos sozinha, como eu criei meus quatro filhos”, completa.
“Eu amo ser mulher. As dificuldades nos fortalecem “
Na educação do município, as mulheres também são maioria em alguns segmentos. Segundo dados da Secretaria Municipal de Educação de Marabá (Semed), dos 2.412 professores, 1.731 são mulheres, representando mais de 71% do total. Já entre diretores e vice-diretores, os números se ampliam. Dos 239 profissionais que ocupam esses cargos, 181 são mulheres, totalizando mais de 76%.
Agleide Almeida é diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Fé em Deus, em Morada Nova. A pedagoga, de 50 anos, é servidora pública há 27 anos. A escola atende mais de 360 estudantes do 1° ao 5° ano.
O sonho de Agleide era ser professora e tudo se encaminhou para essa realização. Em 1996, fez o concurso público da Prefeitura de Marabá e foi aprovada.
Durante esse período, trabalhou nas escolas Ruy Barbosa, na Vila Murumuru; Arco-íris, em Morada Nova; e José Cursino de Azevedo, na Folha 10. Neste último período, Agleide perdeu a mãe e optou por voltar a dar aula em Morada Nova, onde foi trabalhar na escola Fé em Deus.
Na escola, iniciou como coordenadora pedagógica. Logo após, foi eleita para ser diretora. Já são dez anos na escola Fé em Deus.
“Eu respiro educação. Eu não me vejo em outra área porque eu amo a transformação, o dia a dia de você perceber o avanço e o aprendizado de cada criança. Não só no ensino e aprendizagem de leitura e escrita, mas também na forma de educar, saber que você contribuiu, que no outro dia, na outra semana, a criança já chega passando aquilo, inclusive levando para a família como multiplicador do que aprende com a gente”, explana.
A educação que hoje ela respira, foi um dos principais motores que a incentivaram a seguir em frente, diante de uma infância na zona rural, que, por vezes, apresentava dificuldades de transporte até a escola, sendo um desafio para a conclusão dos estudos.
A família veio do Espírito Santo e passou por Rondon do Pará, antes de chegar em Marabá, e cedo, na adolescência, Agleide perdeu o pai, o que acabou por resultar em mais desafios para ela e a família.
No dia a dia, Agleide tem múltiplas jornadas. São dois turnos na escola, além do cuidado com a família e o gerenciamento do lar. “Então, fica naquela coisa frenética e boa. Eu não reclamo, não. Eu gosto disso. No final do turno da escola, eu volto novamente a gerenciar a vida familiar. A mulher não é só um foco. Ela tem vários ao mesmo tempo”, pondera.
Ela afirma que, a partir do momento, que a mulher, na adolescência, compreende o que representa para o mundo, assim como a consequente busca por espaço, é que a força se torna uma aliada.
“É isso, esse desafio, nos faz fortes. É mais difícil para nós, mulheres. A sociedade é mais difícil. No momento que a gente se vê, que precisa correr atrás, ligar, conquistar espaço, as dificuldades nos fazem mais fortes. Eu amo ser mulher porque foi a partir desse momento que eu consegui a força que tenho, tanto para cuidar da minha família, quanto em tudo que a gente faz. As dificuldades nos fortalecem”, relata.
Nesse sentido, a pedagoga acredita que todo ser humano é uma espécie de colcha de retalhos onde todos os locais por onde passa e trabalha, bem como todas as pessoas, das mais variadas experiências, deixam um pouco de si no indivíduo.
“Eu tenho um pouco de todos aqueles que, desde que eu iniciei minha trajetória de trabalho, tenho um pouco de cada pessoa que passou, que eu convivi. Eu aprendi com cada um. Então, nós somos construídos, montados a partir dessa pessoas que a gente convive, seja de forma negativa ou positiva, mas a gente aprende”, relata, deixando uma mensagem a todas as mulheres.
“Eu queria desejar felicidade para todas nós, mulheres, guerreiras. A partir do momento que nascemos, já somos guerreiras nesse mundo, nessa sociedade. Feliz Dia das Mulheres para todas as colegas, todas as amigas. Que Deus abençoe cada uma e que continuem nessa força”, finaliza.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Sávio Calvo