Tempo depende das condições de cada pessoa, por exemplo, se o ‘náufrago’ ou ‘isolado’ tem mais massa muscular ou tecido adiposo que possa garantir alguma reserva ao corpo. Nelson Nedy Ribeiro, o jardineiro que ficou literalmente ilhado por cinco dias depois de ser arrastado pelo mar em Grumari, na Zona Oeste do Rio, contou ter sobrevivido ao isolamento comendo dois limões, um pedaço de carvão e bebendo água salgada misturada com doce. A história de Nelson terminou bem graças ao socorro que chegou a tempo. Mas quanto tempo podemos viver sem água e alimentos? Não vivemos sem oxigênio, água ou alimentos. Quando um destes falta ou escasseia a sobrevivência fica seriamente ameaçada. O menor “estoque” é o de oxigênio: o corpo humano não consegue ficar mais 4 minutos sem oxigênio; mais de 3 dias sem água ou mais de 50 dias sem alimentos”, afirmou, em coluna no g1, a médica Ana Escobar*. O nutrólogo Evandro José de Almeida Figueiredo explicou em entrevista ao g1, realizada logo após um grupo de jovens ficar preso em caverna na Tailândia, que depende muito das condições de cada pessoa: se tem mais massa muscular ou tecido adiposo que possa garantir alguma reserva ao corpo, por exemplo. “É muito mais grave a privação de água, mais grave ainda é a privação de sono. Você entra em colapso”, explicou Figueiredo. Os sintomas que aparecem após os primeiros dias sem comida são: emagrecimento brusco, perda de massa muscular, alterações psicológicas, fraqueza, apatia, anemia, podendo chegar à desnutrição. Em situações extremas, o corpo tende a se adaptar e, para isso, muda um pouco o seu funcionamento. Sem alimentação, o corpo sofre para manter os níveis de glicose e produzir a energia necessária e vital para vários órgãos. “Em um primeiro momento, a regulação vai tentar dar conta de subir essa glicemia. A primeira coisa é usar o glicogênio, a primeira reserva que temos, mas que dura horas, no máximo um dia”, explica Figueiredo. Depois dessa primeira etapa, o corpo usa a reserva de gordura para tentar manter o metabolismo funcionando. Em paralelo a estas adaptações, uma das consequências é a degradação da proteína, que faz o corpo começa a perder massa muscular. Assista vídeo: https://globoplay.globo.com/v/10848401/ Quais funções corporais ficam em risco? Segundo Denise de Augustinis Noronha Hernandez, presidente do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região SP-MS, praticamente todos os órgãos envolvidos na metabolização das reservas destes nutrientes começam entrar em falência. “Sem nenhuma fonte de energia, o organismo primeiro vai utilizar a gordura estocada, depois vai retirar esta energia dos músculos, causando perda intensa de massa muscular, deixando o indivíduo com as funções cerebrais prejudicadas, debilidade física, alterações na pele, alterações sanguíneas, etc. No caso de crianças, ocorre desaceleração e até interrupção do crescimento”, explica. O clima influencia na resistência do corpo? Segundo Hernandez, o clima e a temperatura do local podem influenciar. “Em locais quentes há uma desidratação maior, e locais de baixa temperatura podem causar hipotermia. A temperatura favorável é de 25 a 26 graus”, explica. Água, nutrientes e cérebro Ana Escobar complementa que a água é um nutriente essencial. “O corpo humano adulto tem em sua composição 50-60% de água, que é vital para a circulação e funcionamento de todos os órgãos. (…) Por isso não conseguimos ficar mais de 3 a 5 dias sem água”, completa. A médica esclarece ainda que outros nutrientes nos garantem a energia essencial para o funcionamento das células. “Esta energia é fundamentalmente convertida em glicose, que é o nutriente do cérebro. Quando falta glicose, o cérebro consegue funcionar com outra forma de energia, que são os corpos cetônicos”, conta a médica.
Onde o corpo “estoca” a energia? A médica explica que a energia é estocada basicamente em 3 lugares: no fígado, onde fica estocada a glicose, na forma de glicogênio, que representa apenas 1% dos estoques; nos músculos, sob a forma de proteínas, que representa 14% dos estoques e no tecido adiposo, ou gordura, que representa 85% dos estoques. “Em uma situação de privação de alimentos, os primeiros estoques que acabam são os do fígado, que manda toda a glicose para a circulação. Em seguida, o corpo começa a retirar a energia das gorduras para produzir os corpos cetônicos que, depois de 2 semanas, passam a abastecer o cérebro. Paralelamente, as proteínas são retiradas dos músculos e transformadas em glicose”, disse Ana Escobar. (Abaixo, veja vídeo da doutora Ana Escobar publicado em 2018 sobre “quanto tempo podemos ficar sem água e sem comida”.) link do vídeo: Jardineiro resgatado em ilha: saiba por quanto tempo é possível sobreviver sem água nem comida | Saúde | G1 (globo.com) fonte: G1